A tarefa de decidir é composta de três etapas:
1) O relacionamento de todas as possíveis estratégias que poderão ser adotadas (a estratégia representa o conjunto de decisões que determinam o comportamento a ser seguido num determinado período de tempo);
2) A determinação de todas as consequencias decorrentes da adoção de cada estratégia;
3) A avaliação comparativa de cada grupo de consequencias e escolha de uma alternativa entre várias disponíveis, a partir de valores pessoais e organizacionais. A escolha indica a preferência por um conjunto de consequencias.
No entanto, Simon alerta que mesmo a palavra “todas”, sendo usada deliberadamente, “é impossível, evidentemente, que o indivíduo conheça todas as alternativas de que dispõe ou todas as suas consequencias. Isto significa que o gestor não terá acesso a todas as informações necessárias e não será possível saber qual a melhor alternativa de comportamento ou estratégia a ser selecionada e implementada, como pressupõe o homem economico. A situação assemelha-se à do alpinista que escolhe uma montanha (o pico do Evereste) como seu objetivo imediato: dos vários caminhos alternativos que lhe possibilitam chegar lá, “ele pode, de facto, percorrer apenas um e nunca saberá se aquele que escolheu é o melhor, embora sob certas condições ele possa ter um palpite razoável”.
Percebe-se que para realizar todas as etapas citadas acima, o indivíduo é limitado na sua racionalidade. Para Simon o comportamento real não alcança a racionalidade objetiva (a melhor escolha), pois o indivíduo é limitado e influenciado, muitas vezes, pela sua capacidade física, pelos seus valores e pela extensão de seus conhecimentos.
Quanto às limitações de conhecimentos, Simon propõe que não é possível ao gestor ter acesso a todas as possibilidades de acção, medindo todas as opcções, tendo em vista a impossibilidade material de obter todas as informações, dados problemas de tempo e custo. O gestor contenta-se em adquirir um número limitado de informações, “um nível satisfatório”, que possibilite a identificação dos problemas e algumas soluções alternativas. “O que o indivíduo faz, na realidade, é formar uma série de expectativas das consequencias futuras, que se baseiam em relações empíricas já conhecidas e sobre informações acerca da situação existente”. Para ilustrar a imperfeição ou ausência de conhecimento, Simon cita o exemplo do corpo de bombeiros de uma cidade:
“A fim de aplicar, com pleno êxito os recursos existentes para resolver o problema de protecção contra incêndios de certa cidade, os membros do corpo de bombeiros necessitariam saber com detalhes as probabilidades de ocorrência de incêndios em cada parte da cidade – em cada edifício, para sermos mais precisos – e o efeito exato que teriam sobre os prejuízos causados pelo fogo”, considerando “determinadas mudanças no processo administrativo, ou na redistribuição das equipas de combate a incêndios”.
Em relação à capacidade do ser humano, mesmo que fosse possível ter acesso a todas as informações de que necessita, ele não seria capaz de interpretar todas as informações disponíveis, tendo em vista a impossibilidade física de relacionar tantos factos na sua mente, tornando improvável a escolha da solução ideal ou a melhor alternativa.
Quanto às limitações relacionadas com os valores e conceitos de finalidades que influenciam a gestão, a lealdade à organização por parte do gestor é fundamental. Se os valores individuais não coincidirem com os valores e finalidades organizacionais, o gestor pode tomar decisões contrárias aos interesses da unidade mais ampla. Pressões afetivas, culturais e jogos de poder influenciam no conteúdo das decisões.
Em resumo, para Simon é impossível o indivíduo conhecer todas as alternativas de que dispõe e suas consequencias. Por isso, a teoria de decisão, deve ser na sua essência, a teoria da racionalidade intencional e limitada do comportamento do ser humano, que contemporiza porque não possui meios para maximizar os resultados. A teoria deve ficar preocupada “com os limites da racionalidade e com a maneira pela qual a organização afecta esses limites no caso do indivíduo que vai decidir”.
No modelo de racionalidade limitada de Simon as decisões são satisfatórias, mas não óptimas. A optimização das decisões é uma ficção, pois elas são limitadas ou influenciadas pelas limitações do ser humano em ter acesso e ao processar cognitivamente todas as opcções, pela impossibilidade de obter todas as informações decorrentes de problemas de custo e tempo e pelas crenças, conflitos e jogos de poder que ocorrem dentro das organizações.
Um comentário:
olá, tudo bem? estamos fazendo um trabalho sobre o processo decisório e o teu blog está sendo muito importante para o enriquecimento do mesmo. Gostaríamos de saber qual a bibliografia que vocÊ utilizou para realizar esse texto!
Obrigada desde já,
att Raphaela almeida
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