Foi Herbert A. Simon o primeiro a caracterizar os processos administrativos como processos decisórios. Na obra “Comportamento Administrativo: estudo dos processos decisórios nas organizações administrativas”, Simon analisa a estrutura da escolha racional humana, ou seja, o modo como o indivíduo decide, para estudar a anatomia (estrutura) e a fisiologia (funcionamento) da organização e descrever o trabalho do gestor.
Na opinião do autor a definição do que é gerir (a arte de conseguir realizar as coisas) faz com que se dê maior ênfase aos métodos e ao que é feito e pouco destaque à escolha que antecede a ação, isto é, “a determinação do que se deve fazer”. Existe a preocupação em descrever orientações que possibilitem uma ação coordenada dos indivíduos para realização de uma tarefa, mas não em elaborar princípios que orientem a escolha que antecede à ação. Para Simon, uma teoria geral da gestão não deve incluir apenas princípios que assegurem uma ação efetiva, mas também, princípios de organização, que assegurem decisões corretas.
Para explicar sua ideia, Simon cita o seguinte exemplo: embora seja o soldado com a metralhadora quem lute no campo de batalha e não seu comandante, este, provavelmente, exercerá mais influência no resultado da luta do que qualquer soldado. A probabilidade que tem o comando de afetar o resultado da batalha depende do grau de influência (como a determinação do objetivo e da posição estratégica do exercito) a que será submetido o soldado.
Analogamente, pode-se citar o exemplo de uma fábrica de eletrodomésticos. Um frigorifico é construído pelos funcionarios na linha de montagem e não pelo gestor da produção, mas este último, provavelmente, exercerá mais influência no bom resultado da produção do que o funcionario. Dessa forma, a proposta de Simon é saber como o gestor pode influenciar os funcionarios a fim de obter um comportamento coordenado, ou seja, como as decisões e comportamento desses funcionarios podem ser determinados pela organização para que eles produzam frigorificos de acordo com o método estabelecido.
Segundo Simon existem dois extremos nas ciências sociais quando o assunto tratado é a racionalidade. Num extremo, o homem economico atribuído pelos economistas, como um ser de consciencia racional. É um ser capaz de ter acesso a todas as informações necessárias à sua decisão, que conhece todas as alternativas de comportamento e suas consequencias e que tem capacidade de escolher a alternativa que maximiza os resultados, e chegar a melhor alternativa.
No outro extremo estão os discípulos de Freud, que tratam de reduzir todo conhecimento à afetividade, o que significa dizer, que as pessoas não são tão racionais como gostariam de ser. Para o autor, o comportamento humano nas organizações é, se não totalmente, pelo menos em boa parte, intencionalmente racional, pois a pessoa procura a melhor solução, mas não a consegue devido às suas limitações ou critérios em que ela baseia a sua escolha. Simon vê “o homem como um actor economico bombardeado por escolhas e decisões, mas possuindo um quantidade limitada de informações e capacidades de processamento”.
Sendo assim, a proposta de Simon não visa substituir a psicologia pela economia como base para formulação de uma teoria organizacional, mas observar a área em que o comportamento humano é intencional (que pode ser moldado aos interesses organizacionais), embora racionalmente limitado, para desenvolver uma autentica teoria da organização e gestão.
Na sua visão, a organização é um sistema de decisão onde a pessoa participa de forma racional e consciente, escolhendo entre alternativas mais ou menos racionais. A racionalidade da decisão (adequação entre meios e fins) torna-se então, a principal preocupação da teoria administrativa, pertencendo ao gestor a tarefa de distribuir e influenciar a função decisória numa determinada organização. O processo de gestão consiste na tarefa de estabelecer os funcionarios e implementar um nível administrativo hierarquico que seja capaz de influenciar as suas decisões, a fim de obter um comportamento coordenado e efetivo.
Um comentário:
Gostei do artigo, há já algum tempo que não ouvia falar do homem económico.
Na realidade o Homem Económico não existe e cada vez mais os economistas têm essa noção e por isso nos modelos económicos cada vez mais serão introduzidas algumas variaveis como as EXPECTATIVAS, que reflectem, o lado psicologico, digamos, da economia.
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